01/05/2010

O jornal São Paulo Zona Sul e a Operação Urbana Água Espraiada

O Jornal São Paulo Zona Sul está completando 50 anos. Surgiu em 1960, a partir da iniciativa de líderes comunitários que viviam na região do Jabaquara e sentiam as carências de um bairro ainda desprovido de recursos básicos como água, luz, asfalto pelas ruas, transporte público... Para quem não sabe, a Cidade Vargas foi um bairro planejado e que teve facilidades de financiamento para integrantes dos Sindicatos dos Jornalistas e Comerciários - daí o nome de várias vias do bairro - e por isso atraiu vários deles para que constituíssem moradia ali. O fundador do jornal, Luis Ismar D'Angelo Netto era um desses pioneiros do bairro. E uma das primeiras lutas dessas lideranças - que se transformou, inclusive, em manchete da primeira edição do SPZS - foi a abertura de uma avenida, a Tereza Cristina, facilitando a circulação da população não só do Jabaquara como de bairros do Ipiranga, Saúde, Vila Mariana  que passaria a ter acesso à região central da cidade. Anos depois, essa proposta se concretizaria: a avenida existe até hoje mas está desmembrada entre Abraão de Moraes, Ricardo Jafet e a própria Tereza Cristina.

Mas, o que tem tudo isso a ver com a Avenida Jornalista Roberto Marinho? Muito.

Como naquela época, a promessa de prolongamento da via gera grandes expectativas na comunidade local. Há anos se ouvem frases de fortes expectativas para que a avenida seja efetivamente concluída. E isso por diversas razões, que vão da melhoria da qualidade de vida, passando pela geração de empregos, fortalecimento do comércio, reurbanização do bairro, oferta de moradia mais digna à população que hoje vive em áreas de risco e degradadas à beira dos corregos, surgimento de um imenso parque com oferta de lazer e contato com a natureza, até chegar à questão da alternativa viária para toda a cidade e melhor fluidez do trânsito para a região, especialmente para quem vive em ruas do Jardim Aeroporto e Parque Jabaquara, onde congestionamentos tomaram conta de vias antes residenciais, desde que a Avenida foi inaugurada, em seu primeiro trecho.

A obra, entretanto, não tem só aspectos positivos, como possa parecer. Vai impactar a vida da comunidade local de forma intensa durante anos. E isso vale não só pelos transtornos da obra em si, com desvios de trânsito, geração de tráfego de caminhões, poeira, barulho e tantos outros fatores intrínsecos a uma mega obra, como especialmente para a mudança brusca que vai gerar na vida de milhares de pessoas. Moradores que vivem à beira dos córregos, em áreas invadidas, terão de optar por voltar às suas origens, mudar de bairro ou esperar por um programa habitacional que está previsto na Operação Urbana mas que até hoje não foi sequer iniciado. Para onde foram as famílias removidas da favela do Jardim Edith, se não havia unidades habitacionais já construídas (sugerimos visita ao link de fotos à direita, neste blog, com fotos e comentários muito interessantes, feitas por um jovem talento fotográfico daquela região).

E quanto aos que vivem em moradias que serão desapropriadas? Esses nem mesmo têm a certeza de que poderão permanecer na região. Afinal, a lei prevê garantias para quem vive em áreas invadidas, mas o mesmo não está previsto para quem vive em imóveis próprios. Pior ainda para quem está em casa ou comércio alugado - nem pagamento por desapropriações irá receber, que dirá uma indenização.

É o que está acontecendo com a comunidade da Vila Fachini. Por que será que não houve transparência com essa população? Por que será que o poder público muitas vezes parece não se importar com o futuro de quem será desapropriado? Será que a união dos moradores conseguirá reverter a situação ou, ao menos, gerar atitudes mais respeitosas por parte dos representantes de órgão públicos do que aquela relatada por quem foi a um encontro com representantes da Siurb no sábado, 24 de abril?

Estas são perguntas que serão aprofundadas nos próximos posts do jornal SP Zona Sul neste blog, que tem por objetivo se tornar uma ferramenta de apoio para a comunidade que será direta ou indiretamente afetada pela Operação Urbana Água Espraiada.

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